Sentiu-se mal e caiu. A testa bateu na calçada e um filete de sangue
misturou-se à água que escorria pela valeta.

O barulho da chuva fria e o ronco dos motores dos carros que passavam abafavam seus fracos gemidos e pedidos de ajuda.

Transeuntes passavam apressados com seus guarda-chuvas desviando-se, alguns esbarrando em seu corpo e reclamando do trambolho que ele representava.

Indiferença geral. Ninguém tinha tempo a perder. Todos corriam em direção à solução de seus próprios problemas.

Passavam-se as horas. Caia a noite. Exangue, já sem condições nem de gemer recolheu-se em sua agonia para esperar a morte.

Foi quando alguém se interessou. Abaixou-se e tocou nele.

“Graças a Deus” - pensou. Abençoado seja esse irmão que, como o bom samaritano, condoeu-se da dor de alguém e vem demonstrar solidariedade.

Abriu os olhos ainda a tempo de perceber que o outro lhe arrancava o relógio do pulso e fugia às carreiras pisando nas poças d' água e provocando xingamentos nos que eram borrifados pela lama.